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BLOG – Atrás de “Atrás dos Olhos” – 3 - Cinema de ator?

Atualizado: 13 de mai. de 2020


Certa vez, Neise Neves, protagonista de nosso filme nos contou que participou de um curso de direção de não-atores que falava das “maravilhas” de se trabalhar com “atores não-atores”. Nesse curso o professor exibiu um filme “todo” feito com não-atores para provar que o fato deles não serem atores influencia na qualidade das interpretações, já que, segundo ele, eles não vêm com os “vícios” comuns de atores com formação teatral.

O cara, que é até um diretor que respeito muito, em um certo momento mostra uma cena em que a não atuação da atriz, ou melhor, a atuação da não-atriz ou... ah, deixa prá lá - é, segundo ele, perfeita. E adivinhe quem era a atriz não-atriz? Grace Passô, diretora, atriz, dramaturga fodástica e a única atriz sim-atriz do filme.

Além da situação ser ótima, ela serve para ilustrar nossa eterna bandeira, nosso hino, nosso libelo e constante afirmação, que, pretendemos, será o guia e base de nosso filme: “Nada substitui um bom ator”.

Não tem mágica, não tem truque. John Malkovich disse uma vez que o papel mais difícil da vida dele foi quando ele interpretou ele mesmo em “Quero Ser John Malkovich”. Porque no fundo o lance é atuação e o que manda é a capacidade de um ator entender a alma humana e convertê-la em ações e emoções. Isso é atuar.

É claro que um bom diretor consegue dar verdade a uma interpretação de um não-ator, principalmente quando ele está interpretando ele mesmo, mas tira o cara do eixo dele e o cenário muda. O filme “Cidade de Deus - 10 Anos Depois” fala um pouco disso, embora também gire em torno do tema “use e abuse do ator e depois jogue fora”, que é outra polêmica, a exemplo de Pixote.

A questão é que existe uma certa insegurança de muitos diretores na relação com atores, já que muitos deles costumam ser ases na direção de câmera, mas não tem ainda o traquejo necessário para converter a favor do filme todo o arsenal de talento, demandas e loucuras de um verdadeiro ator.

E, é lógico, isso não quer dizer que não se deva ter não-atores nos filmes já que temos exemplos surpreendentes disso a todo momento, vide Cidade de Deus, Narradores de Javé, Girimunho, de Helvécio Marins e Clarissa Campolina e vários outros.

Mas o lance é que Minas Gerais tem virado campeã desses filmes com não-atores ou mesmo sem ator nenhum. E, talvez pelo tilintar da mídia e dos prêmios que esses filmes têm atraído, está rolando uma tendência explícita por esse tipo de filme em editais de patrocínio.

É bom deixar claro que isso não é uma reclamação, embora seja (rá, rá, rá). Mas só que Minas está virando um celeiro de talentos tipo-exportação e precisamos pensar melhor essa distribuição de recursos, com foco na valorização de nossos artistas e também em um mercado (sim, ele mesmo, o Maldito, o Coisa Ruim, o capeta Mercado).

Digo artistas tipo-exportação porque nossos artistas são fodas mesmo e também porque eles estão todo momento se exportando para outros mercados, já que a galera está correndo atrás de seus sonhos em outros lugares, na certeza de que eles não se encontram aqui (talvez os sonhos sim, mas não o instrumental para realizá-los).

Lógico que essa conversa é mais antiga que a data de nascimento de Jesus Cristo, mas estamos levantando essa bandeira porque a captação de recursos em um estado como Minas Gerais é uma batalha inglória. E embora esse assunto seja bem longo e amplo, eu vou ficar por aqui, porque esse textão já tá caminhando prá ficar chato e a gente tem muito mais para criar e pensar. Até a próxima.

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